Um barulho ininterrupto entrava pelo seu canal auditivo. Era violento! Incomodava a bigorna e o martelo; tinha dores, chegando a franzir os olhos, estes ainda fechados.
Abriu-os. Os olhos. Venceu a invencível manhã de segunda-feira.
Atendeu o telefone e ouviu uma voz não-familiar do outro lado. Ficou atento, ainda deitado na sua cama de madeira, com os olhos semi-abertos. Seguiram-se sete minutos de puro silêncio. Puro que nem água num riacho. Mas mais silencioso do que este. A expressão não mudou ao longo de toda a chamada telefónica. Desligou.
Fechou os olhos por quatro segundos e um terço e saiu da cama. Outra batalha vencida, pensou. Dirigiu-se a uma outra divisão. O tempo passou, como sempre passa. O vento lá fora uivava, como sempre uiva. Voltou para o quarto. Abriu a janela de vidros grossos e acendeu um cigarro. Apenas os braços e a cabeça estavam em contacto com o mundo exterior. Tudo o resto era de dentro. Até a alma; pertencia a nada e a ninguém.
Fumou, como sempre fumava. O fumo fugia para longe. Para o longe longínquo. Onde ninguém chegará e conquistará.
Lançou as beatas para o nada, e voltou-se para o seu mundo de dentro, fechando a janela.
Sentou-se numa poltrona azul-escuro e pousou as mãos nas pernas. Ficou ali. Consigo e com ninguém. Com o mundo e sem o mundo. De olhos abertos, sem adormecer ou mexer. Apenas ficou. Como muitos não conseguem ficar, e por isso, ele pensou: Já venci tudo o que tinha a vencer. A partir desse dia, pelo que é sabido, continua ali. Na poltrona, já sem cor. Sentado com os olhos abertos. Sem movimento ou pensamento. Sem cigarro ou beatas. Apenas ele e o seu mundo. Ninguém consegue estar apenas com o seu mundo! Há sempre mais alguém! Mas ele conseguiu! Venceste!
Vence sempre que possas, mas não te magoes. Mesmo distante, ainda continuas preciosa.
Da que interioriza sempre que lhe é permitido,
Maria Violeta.