sábado, 13 de fevereiro de 2010

Preciosa M.,

Um barulho ininterrupto entrava pelo seu canal auditivo. Era violento! Incomodava a bigorna e o martelo; tinha dores, chegando a franzir os olhos, estes ainda fechados. 
Abriu-os. Os olhos. Venceu a invencível manhã de segunda-feira. 
Atendeu o telefone e ouviu uma voz não-familiar do outro lado. Ficou atento, ainda deitado na sua cama de madeira, com os olhos semi-abertos. Seguiram-se sete minutos de puro silêncio. Puro que nem água num riacho. Mas mais silencioso do que este. A expressão não mudou ao longo de toda a chamada telefónica. Desligou.
Fechou os olhos por quatro segundos e um terço e saiu da cama. Outra batalha vencida, pensou. Dirigiu-se a uma outra divisão. O tempo passou, como sempre passa. O vento lá fora uivava, como sempre uiva. Voltou para o quarto. Abriu a janela de vidros grossos e acendeu um cigarro. Apenas os braços e a cabeça estavam em contacto com o mundo exterior. Tudo o resto era de dentro. Até a alma; pertencia a nada e a ninguém. 
Fumou, como sempre fumava. O fumo fugia para longe. Para o longe longínquo. Onde ninguém chegará e conquistará.
Lançou as beatas para o nada, e voltou-se para o seu mundo de dentro, fechando a janela.
Sentou-se numa poltrona azul-escuro e pousou as mãos nas pernas. Ficou ali. Consigo e com ninguém. Com o mundo e sem o mundo. De olhos abertos, sem adormecer ou mexer. Apenas ficou. Como muitos não conseguem ficar, e por isso, ele pensou: Já venci tudo o que tinha a vencer. A partir desse dia, pelo que é sabido, continua ali. Na poltrona, já sem cor. Sentado com os olhos abertos. Sem movimento ou pensamento. Sem cigarro ou beatas. Apenas ele e o seu mundo. Ninguém consegue estar apenas com o seu mundo! Há sempre mais alguém! Mas ele conseguiu! Venceste!

Vence sempre que possas, mas não te magoes. Mesmo distante, ainda continuas preciosa.

Da que interioriza sempre que lhe é permitido,
Maria Violeta.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

M.'zinha,

Ouve-se um grito. Agudo e cortante. O mundo pára, os meus músculos param. Fico estática e sem respiração. O vento parou de uivar e o gritou de se propagar. Parou. Tudo. 
Tudo recomeça.


Como estão os gritos por aí?


Maria V.

Para o Alguém

Nobody said it was easy
It's such a shame for us to part
Nobody said it was easy
No one ever said it would be this hard
Oh take me back to the start

Ultrapassar, com coração rijo e olhos abertos. Mas sempre com imensa paixão!

Maria Violeta.


segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Desta vez, a carta tem outro destinatário. Um destinatário mais próximo. Um destinatário vizinho. Um destinatário ambicioso e sedento de conquistas. Um destinatário surpreendente e que me deixa orgulhoso. Eu sei, Destinatário, que sou mais nova e da vida sei pouco, mas tenta vivê-la com menos seriedade e com mais paixão por cada momento. Vais ver que cada dia custará menos a passar. Vais ver que eu parecerei mais amistosa e simpática. Vais ver que as metas estarão ali, mesmo ao virar da esquina. Não tentes avançar logo. Avança delicadamente. Sem esforço. Chegarás lá, como chegaste onde te encontras hoje.
Orgulho. Sim, orgulho-me de ti.

P.S.: Obrigada por existires!
Mais tua do que da M.,
Marie Violet.


sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Querida M., (II)

Talvez.

Talvez o dia de amanhã nasça. Talvez. 
Talvez te vá visitar um dia. Talvez. 
Talvez seja melhor esperar pela tua visita. Ou talvez não.
Talvez fique tudo igual.
Sim, ficará. 
Talvez. 

Vive amanhã, vive depois. Espera que o 'talvez' se transforme em 'sim'. E que o 'não' se transforme em 'talvez'. Talvez.

Esta carta é talvez da Maria Violeta.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Piriquita M.

Hoje eu estava sentada no nada, mas com tudo. Com tudo e com um pássaro. Asas brancas e azuis. Uma mistura serena, mas arriscada. Arriscada para um pássaro que voa. Um pássaro que tem irreverência suficiente para mostrar a meio mundo qual o seu vestido. O seu vestido permanente; maior irreverência. Como se não bastasse andar com o seu lindo vestido um dia!
Ele pavoneava-se na minha mão. Sim, ele pousou! Eu, de mão esticada, sem tremer, esperava a aterragem do pássaro cheio de irreverência. Ele pousou sem custo. Depois, ambientava-se. Dava pequenos passinhos na minha mão e depois bicava-a. Logo a seguir, elevava o pescoço e olhava para o horizonte. Como é que ele se atreve?! Primeiro, é irreverente na hora de se vestir. E como se isso não fosse o suficiente, ainda desafiava o belo horizonte. Como ele foi capaz?! Olhava para o horizonte de bico levantado, com os pequeninos olhos investidos naquele nada. Mas o horizonte tem poder. O poder de nos levar a outros lugares e de nos fazer pensar que é o limite. Por isso, um pequeno pássaro, apesar de estar na moda, não pode olhar assim para o horizonte! Tem de o olhar com respeito, com o bico menos levantado e com uma alma menos poluída. Ele achava-se dominador, coitado! 
Como deves ter percebido, M., não gostei da atitude do "senhor" pássaro. Por isso, agitei a mão e fiz-lhe um olhar desaprovador. Ele foi sacudido do meu poleiro. Voou. Bateu asas e encarou o horizonte, mas de bico menos levantado.

Novas?

Maria Violetinha.