Fiquei em pé; não fui capaz de me sentar de imediato, pois havia tanto para reter.
Pessoas sem cabelos brancos e ainda com dentes, pessoas ainda sem dentes, pessoas que sorriam, pessoas que cantavam, pessoas que tinham tranças, pessoas com as mesmas feições, pessoas ainda sem as presentes feições, pessoas sentadas, pessoas em pé, pessoas que dançavam, pessoas com amor no coração e algumas já com ódio. Algumas ainda são pessoas. Outras, infelizmente, já não o são. Fisicamente, já não o são. Algumas têm o cabelo diferente, outras já têm rebentos e cuidados, e outras, por enquanto, preferem não os ter. Mas todas elas estavam presentes com o mesmo propósito, naquele sítio: procuravam a felicidade momentânea, pois é de momentos que é feita a vida. Grande momento. Vi momentos com bolos e velas, momentos com catequistas, momentos com cd do Batatoon, momentos de coreografias e momentos de afecto. Eu estava a mil! O meu coração estava a mil!
Havia de tudo. Havia tanto para reter e assimilar. Não era novo, mas já não era nítido. Recordações, isso sim. Ficam guardadas no coração e na alma, mas, na maioria do tempo, estão arquivadas. De momentos em momentos, são abertas as gavetas do arquivo e essas recordações voltam a ser nítidas. Ontem foi assim. Vi tudo e gostei.
A grande tristeza abraçou-me quando me apercebi que quase tudo mudou. As relações, as pessoas, os sorrisos e até aquele sítio. Aquele sítio mítico numa celebração. Agora? Agora tem uma janela que dá para o lado da vida e uma porta que dá para o lado da morte e da solidão. Apenas isso: uma porta e uma janela. Já não há momentos como aqueles presentes na minha cassete. Já não há momentos como nos filmes, em câmara lenta. Já não há sorrisos e risadas como nos filmes. Só há a porta e a janela. E aquelas recordações? São apenas isso, Recordações.
Maria Violeta.