domingo, 31 de janeiro de 2010

Luminosa M.

Luz. 
Luz que ilumina. 
Luz que esconde. 
Quando a Luz é de mais, pode esconder. Ofuscar. Baralhar. Tornar negro o que é luminoso.
Quando a Luz é suficiente, faz brilhar. Resplandecer. 
Quando a Luz é em pequena quantidade, pode não ser justo. Tudo o que seria, não é.

Portanto, M., aproveita a Luz que tens. Da melhor forma. Do melhor ângulo. Favorece-te! Ilumina-te!

Da rapariga que procura a Luz,
Maria Violeta.



quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Pequena M.

Quando menos se espera, o mundo vira. Pernas e oceanos para cima. E as cabeças para baixo.
Ele vira. Rodando. Devagar, devagarinho. Mas acaba por virar.
O meu mundo vai-se virando. 
As pernas suspensas, como trapezistas sem rede. A cabeça enterrada no nada, mas com tanto a pressioná-la. As questões, a evolução e o pensamento! Tanto para maçar uma cabecinha que aponta para o chão de terra. Terra batida, como o meu coração. Rachado, lascado. Fendas. Inúmeras fendas! Mas se a cabeça continuar enterrada nos lugares de baixo, nada sarará e curará. Ficará tudo igual. Monótono. Sensabor. 
Eu acredito que, um dia, as pernas ficarão no lugar das pernas e a cabeça no lugar da cabeça. Apenas daqui a uns dias. Mas será um dia. E esse dia terá tanto valor como qualquer outro dia. Tanto ou mais.


Espero que o teu mundo esteja parado, saudavelmente parado, mas parado. Porque parado nem sempre é mau. Aliás, neste momento, seria tão delicioso; um mundo parado. Sem rodas e piruetas. 
Equilibra o teu mundo e faz-te feliz.


Da eterna trapezista,
Maria Violeta. 

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Uma violeta. Duas violetas. Três violetas. Porque ser Violeta tem muito que se lhe diga!
É preciso saber flutuar e conseguir olhar para além daquilo que pode ser visto. Até para além do horizonte! 
Oh, o que é o horizonte ao pé da Violeta? O horizonte é apenas o horizonte. Mas a Violeta tem cor, textura e cheiro. Tem sorrisos e olhares. Tem delicadeza e suavidade. Tem brilho e brilha!
Não é uma, outra ou qualquer Violeta.
É a Violeta!

Da egocêntrica, mas sempre tua,
Maria Violeta.



Colorida M.,

Ouvir. Custa assim tanto ouvir
Gosto imenso que me ouçam.
Gosto de ouvir, mas também de ser ouvida. 
Será que é praticável ouvir
Será?


Nunca te esqueças que os os penedos e as árvores ocas esperam por ti, aqui. Sem envelhecer. Sem vergar. Porque quando se espera por alguém, a nossa figura não muda. Não nos vergamos ou envelhecemos. Apenas esperamos. Com amor, esperamos. Com desespero, mas esperamos. 
Até porque esperar e ouvir, não é inato. Constrói-se. Com pedrinhas e raminhos. Uns pequenos e outros maiores. Mas no fim, está construído. É preciso querer, sim. Mas constrói-se. Evolui. É possível esperar e ouvir. Mas com tempo e dedicação.
Espero então que, durante a tua Viagem, comeces a construir. Tens tempo, pois com toda a certeza que estás longe. 


Da que nem sempre ouve e espera, mas que está a fazer por isso,
Maria Violeta.

domingo, 24 de janeiro de 2010

M.

Há quem sinta a tua falta. Quando estiveres pronta, volta. Obrigada.


Já agora, uma curiosidade: sabes que as pessoas crescem? Tornam-se seres mesquinhos, com responsabilidades e com mais dinheiro. Sinceramente, não percebo qual as vantagens de tudo isso. Aliás, o sofrimento é superior. Porque quase todos nós vemos alguém crescer. E é doloroso, pois! 
Depois existem outras pessoas que sempre vimos crescidas. Sempre picuinhas e com tarefas para fazer. Mas essas sempre foram crescidas. Pelo menos aos nossos olhos. 
Agora outras, não! Vão e, possivelmente, voltam. Não como tu. Porque descobri que não preciso assim tanto de ti. Mas das outras pessoas preciso. Até mais do que eu desejaria. 
O que eu sei, M., é que os 'sempre crescidos' e os 'agora crescidos' terão sempre um lugar em mim. No meu coração, na minha alma ou até na minha casa. Ao meu lado. A beber chá e a comer bolachinhas de manteiga. Sempre.


Da que se recusa a crescer,
Maria Violeta.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Desaparecida M.,


Eu observava. Sabes observar? Eu hoje soube. Não sei se da melhor forma, pois tenho medo que o meu olhar se encontre com o olhar do observado. E se isso acontecer? Virar a cara é feio; a minha sempre me ensinou isso! Por isso, eu observava a medo.

Lá estava eu, perdida com o olhar. E perdida também numa sala de recepção: onde se esperava para entrar para uma outra sala com um senhor barrigudo, engravatado e com um bigode penteado. O cubículo onde eu esperava era húmido e pálido. Havia um homem careca com uma criança. Esse rebento choramingava, queixava-se a meia voz, e espirrava a brutos pulmões, enquanto o seu pai o puxava para junto de si e o acariciava. Para além deles e da observadora, ainda havia uma recepcionista loira que mexericava nuns papéis brancos e amarelos. Para além deles, da observadora e da loira, havia silêncio. O melhor dos silêncios. Mas a criança estava tão pálida quanto a sala e o seu pai olhava-a com preocupação. 
O tempo passava e, entretanto, a mulher loira levantou-se. A partir desse movimento, começou a ouvir-se um som inevitavelmente feminino: o encontro dos saltos altos das suas botas com o chão de pedra. Tloc, tloc! Dirigiu-se ao menino, pôs-se de cócoras e disse: "Toma um lenço, pequenino. Não vás contaminar toda a sala com os bichinhos que tens nessa boquinha doce". Sorriu com escárnio e entregou-lhe um lenço cor-de-rosa de papel. O pai, inicialmente apático, sorriu por uns segundos, enquanto a senhora se levantava, olhava para eles e sorria. Mas o falso sorriso não durou muito. Ela virou costas e o som feminino ouviu-se de novo. 


Eu, como observadora, apenas observava. É isso que a lei das observadoras manda, observar. Mas aqueles da sala não sabem que te conto isto. Oh, e se esta carta se extravia?! Vão descobrir que sou observadora e que os observei. Atenta e silenciosamente, diria eu. Mas não te preocupes, pois Marias Violetas há muitas e M.'s muito mais!


Fica com os deuses!


Da não engripada, mas sempre com um lenço à mão,
Maria Violeta.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Dona M.

Hoje estive a apanhar laranjas e maçãs. Maçãs e laranjas. Tudo do pomar do senhor Gabriel. Lindo senhor, diria eu. Mas as laranjas não eram agradáveis. Aliás, arrisco-me a dizer que trincar uma laranja do pomar do senhor Gabriel é como caminhar sem chapéu num dia chuvoso! Torna-se num dia acre, como a laranja do pomar do senhor Gabriel. Mas as maçãs... Oh deuses, que maçãs! Maçãs doces como mel! Mas como sabes bem, no pomar, como no mundo, há de tudo: laranjas acres e maçãs doces. Temos apenas de saber como trincá-las.


Estou esquecida, desculpa. Como estás?


Da ladra de frutas do pomar do senhor Gabriel,
Maria Violeta.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Doce M.

Estou sentada. Sentada ao lado da Pedra, no cimo do monte. Aquela Pedra que só nós conhecíamos. A Pedra que deixava a minha imaginação voar. A Pedra. Sem riscos ou musgo. Sem terra ou argila. Mas com coração. É uma pedra com coração. Sempre te disse que a Pedra tinha coração. E agora, ao colocar a o ouvido esquerdo sobre a Pedra, senti uma baque. Um baque frio, mas era um baque. Sim, ela tem mesmo coração! E até sei porquê: todos os dias, ela pode contemplar esta linda imagem. Verde. Tanto verde. Verde que não desapareceu com a tua partida. Corajoso verde. E a Pedra também é corajosa. Não saiu daqui quando tu saíste. E o coraçãozinho dela continua a bater. 
Sinto tudo. Tudo o que há para sentir quando se ouve um coração. E assim, sinto que ela é mais do que uma pedra desprezada por tantos. Esses tantos também têm um coração de pedra. Por vezes, ainda mais rijo e frio. Mas mesmo assim, desprezam o que não se deve desprezar. Desprezam como se todos fossemos uns bichos. Bichos piores que pedras com musgo! Mas ela não. Ela sente. Sente com o coração de pedra.

Espero que percebas: ela é um pedra, logo tem direito a ter um coração de pedra. Tira o teu. Ainda vais a tempo.

Da rapariga dos montes,
Maria Violeta. 


quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

A Marie Violet está arreliada! Com a vida, com a vida e com a vida! Como diria o meu velho amigo Álvaro de Campos: "O que há em mim é sobretudo cansaço". E com isto, me retiro. 


Maria Violeta

Adorada M.,

Como tens passado? Eu não muito bem. É que as horas passam e eu passo com elas. Envelheço e o mundo envelhece comigo. Até as árvores envelhecem; caem folhas. Isto é tudo novo por aqui. Quando estavas presente, nada disto acontecia. Tudo estava intacto e inodoro. Agora sinto o cheiro das camélias. E elas desviam-se quando eu passo.Curvam-se, fazem uma vénia. É tudo tão estranho e diferente. Sim, quando tu estavas presente, nada disto era assim. Elas curvavam-se quando tu passavas, não quando eu passava. Agora sou eu. É a minha vez.
Chega de pensar!

Cruzei-me, sem tencionar, com o senhor Inácio. Lá ele andava, a levar as cabras castanhas a comer o pasto. Aquele pasto que ainda sobreviveu à tua abalada. Mas, como te estava a contar, vi-o. Ele está magricela. Magricela como alguém que só bebe leite de cabra. Mas eu falei-lhe. Ele dizia-me que tinha saudades. "Saudades da filha que partiu em busca do sonho", dizia-me ele. Cá eu, sei que ela partiu por amor. Amor proibido, como só existem nas telenovelas. Mas o senhor Inácio não precisava de saber, pensei eu. Anuí. Como sempre faço. 


Cada dia é um novo dia; cada dia é um dia. Vivendo-o ou não, ele não deixa de ser dia. Nunca te esqueças disto, M.

Da campónia com nome de flor,
Maria Violeta.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Querida M.,

Escrevo, porque partiste. Escrevo, porque não estás presente. Escrevo e continuarei a escrever-te. 
No dia em que partiste, o mundo também partiu. Partiu-se dois. Ou em três. Ou até em quatro pedaços. E só hoje consigo reunir cada estilhaço desse mundo. 
Mas sabes, minha M., abandonaste estes montes que me rodeiam, mas nunca deixarás de sentir a chuva gelada nos pés descalços. Aqueles pés, que juntamente com os meus, corriam pelos campos cobertos de perfumadas flores. Jamais deixarás de sentir. Jamais. 


Da destroçada, mas sempre tua,
Maria Violeta.