Eu observava. Sabes observar? Eu hoje soube. Não sei se da melhor forma, pois tenho medo que o meu olhar se encontre com o olhar do observado. E se isso acontecer? Virar a cara é feio; a minha sempre me ensinou isso! Por isso, eu observava a medo.
Lá estava eu, perdida com o olhar. E perdida também numa sala de recepção: onde se esperava para entrar para uma outra sala com um senhor barrigudo, engravatado e com um bigode penteado. O cubículo onde eu esperava era húmido e pálido. Havia um homem careca com uma criança. Esse rebento choramingava, queixava-se a meia voz, e espirrava a brutos pulmões, enquanto o seu pai o puxava para junto de si e o acariciava. Para além deles e da observadora, ainda havia uma recepcionista loira que mexericava nuns papéis brancos e amarelos. Para além deles, da observadora e da loira, havia silêncio. O melhor dos silêncios. Mas a criança estava tão pálida quanto a sala e o seu pai olhava-a com preocupação.
O tempo passava e, entretanto, a mulher loira levantou-se. A partir desse movimento, começou a ouvir-se um som inevitavelmente feminino: o encontro dos saltos altos das suas botas com o chão de pedra. Tloc, tloc! Dirigiu-se ao menino, pôs-se de cócoras e disse: "Toma um lenço, pequenino. Não vás contaminar toda a sala com os bichinhos que tens nessa boquinha doce". Sorriu com escárnio e entregou-lhe um lenço cor-de-rosa de papel. O pai, inicialmente apático, sorriu por uns segundos, enquanto a senhora se levantava, olhava para eles e sorria. Mas o falso sorriso não durou muito. Ela virou costas e o som feminino ouviu-se de novo.
Eu, como observadora, apenas observava. É isso que a lei das observadoras manda, observar. Mas aqueles da sala não sabem que te conto isto. Oh, e se esta carta se extravia?! Vão descobrir que sou observadora e que os observei. Atenta e silenciosamente, diria eu. Mas não te preocupes, pois Marias Violetas há muitas e M.'s muito mais!
Fica com os deuses!
Da não engripada, mas sempre com um lenço à mão,
Maria Violeta.