quarta-feira, 27 de abril de 2011

Os três cigarros diários

Ele fumava, enquanto ela olhava para ele atentamente. O sabor da saliva dele não era apreciado por ela, quando ele terminava de fumar. Por isso, ela mantinha-se afastada, esperando que o cheiro e sabor a fumo de cigarro saísse e evaporasse. Depois disso, ela queria-o, como um pássaro esfomeado quer alpista. A vontade de que o cheiro e sabor fossem anulados apoderava-se dela; ela queria com todas as suas forças que o cigarro ficasse apagado, a beata enterrada no chão de alcatrão. E depois, oh depois, poderia tê-lo. Só para si. Sem uma beata e monóxido de carbono a dividi-los, como se um pirilampo cintilante estivesse a interromper a noite escura. Ela queria a escuridão. Ela queria-o. Mas os três cigarros diários matam-na, mais do que os matam a ele. Mais rápido ela morre de saudades do que ele de cancro do pulmão. Mas, enquanto a morte não acontece, a vida suga-os e eles amam ser sugados pelo amor e pela vida.
Maria Violeta.

1 comentário:

Anóni-mouse disse...

Gostei!:)
Partilho, já agora, algo fora do comum: http://www.youtube.com/watch?v=QH2-TGUlwu4

Cordiais cumprimentos,
Anóni-mouse

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