Há alguns dias atrás, eu tinha traçado uma meta tão válida como qualquer outra: arrumar todos os livros, apontamentos, cadernos, dossiers, fotocópias, pedaços de papel, folhas quadriculadas, folhas de linhas, blocos, testes, enunciados de exame e qualquer outro objecto de leitura ou escrita utilizado no ano lectivo que terminou recentemente. Estão juntos em pilhas. Pilhas altas e que fazem sombra no quarto. Pilhas que estão em cima da secretária, ao lado da secretária, em baixo da secretária. Até em baixo da cama. Até ao fundo da cama. Em todo o lado. Pilhas de material que, em tempos, me foi útil e serviu para aumentar o meu sucesso escolar. Mas, visto que, em princípio, o secundário terminou, não vejo a razão de continuar a encher o meu quarto com tanta árvore morta. Acho que devo guardar tudo. Bem enjaulado, bem fechado, mas num raio de poucos metros, não vá eu precisar disso no ano lectivo que se avizinha, mesmo estando eu noutro nível. Por isso, hoje eu ia alcançar esse meu objectivo de verão. Mas, deparei-me com uma dúvida: "E se, afinal de contas, eu não conseguir passar para o outro nível, já no próximo ano lectivo?". Então, afastei-me da pilha mais próxima de mim e sentei-me. Pensei que não deveria mexer nisso já. Porque posso arrumar, mas amanhã ter de desarrumar tudo de novo, mas aí com uma dor maior. Porque posso estar a precipitar-me, porque posso estar a dar tudo como ganho, porque posso estar a dar tudo como garantido. Não sou assim. Por isso, não arrumei. Por isso, vou esperar. Prefiro arrumar todos aqueles manuscritos e impressões com um sorriso na cara e com uma expressão de "espero nunca mais te ver" do que desarrumá-los, mais tarde, com uma lágrima a cair e com uma expressão de "aqui vamos nós, novamente". Vou esperar. Obrigo-me a esperar.
Maria Violeta.
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