quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Adorada M.,

Como tens passado? Eu não muito bem. É que as horas passam e eu passo com elas. Envelheço e o mundo envelhece comigo. Até as árvores envelhecem; caem folhas. Isto é tudo novo por aqui. Quando estavas presente, nada disto acontecia. Tudo estava intacto e inodoro. Agora sinto o cheiro das camélias. E elas desviam-se quando eu passo.Curvam-se, fazem uma vénia. É tudo tão estranho e diferente. Sim, quando tu estavas presente, nada disto era assim. Elas curvavam-se quando tu passavas, não quando eu passava. Agora sou eu. É a minha vez.
Chega de pensar!

Cruzei-me, sem tencionar, com o senhor Inácio. Lá ele andava, a levar as cabras castanhas a comer o pasto. Aquele pasto que ainda sobreviveu à tua abalada. Mas, como te estava a contar, vi-o. Ele está magricela. Magricela como alguém que só bebe leite de cabra. Mas eu falei-lhe. Ele dizia-me que tinha saudades. "Saudades da filha que partiu em busca do sonho", dizia-me ele. Cá eu, sei que ela partiu por amor. Amor proibido, como só existem nas telenovelas. Mas o senhor Inácio não precisava de saber, pensei eu. Anuí. Como sempre faço. 


Cada dia é um novo dia; cada dia é um dia. Vivendo-o ou não, ele não deixa de ser dia. Nunca te esqueças disto, M.

Da campónia com nome de flor,
Maria Violeta.

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